quinta-feira, 9 de abril de 2009

Todos lêem, mas ninguém é capaz de entender

Nem eu...

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fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Mito_da_caverna

Sócrates
– Agora imagina a maneira como segue o estado da nossa natureza relativamente à instrução e à ignorância. Imagina homens numa morada subterrânea, em forma de caverna, com uma entrada aberta à luz; esses homens estão aí desde a infância, de pernas e pescoços acorrentados, de modo que não podem mexer-se nem ver senão o que está diante deles, pois as correntes os impedem de voltar a cabeça; a luz chega-lhes de uma fogueira acesa numa colina que se ergue por detrás deles; entre o fogo e os prisioneiros passa uma estrada ascendente. Imagina que ao longo dessa estrada está construído um pequeno muro, semelhante às divisórias que os apresentadores de títeres armam diante de si e por cima das quais exibem as suas maravilhas.

Glauco
– Estou vendo.

Sócrates – Imagina agora, ao longo desse pequeno muro, homens que transportam objetos de toda espécie, que os transpõem: estatuetas de homens e animais, de pedra, madeira e toda espécie de matéria; naturalmente, entre esses transportadores, uns falam e outros seguem em silêncio.

Glauco
- Um quadro estranho e estranhos prisioneiros.

Sócrates
- Assemelham-se a nós. E, para começar, achas que, numa tal condição, eles tenham alguma vez visto, de si mesmos e de seus companheiros, mais do que as sombras projetadas pelo fogo na parede da caverna que lhes fica defronte?

Glauco
- Como, se são obrigados a ficar de cabeça imóvel durante toda a vida?

Sócrates
- E com as coisas que desfilam? Não se passa o mesmo?

Glauco - Sem dúvida.

Sócrates
- Portanto, se pudessem se comunicar uns com os outros, não achas que tomariam por objetos reais as sombras que veriam?

Glauco
- É bem possível.

Sócrates
- E se a parede do fundo da prisão provocasse eco sempre que um dos transportadores falasse, não julgariam ouvir a sombra que passasse diante deles?

Glauco
- Sim, por Zeus!

Sócrates - Dessa forma, tais homens não atribuirão realidade senão às sombras dos objetos fabricados?

Glauco
- Assim terá de ser.

Sócrates
- Considera agora o que lhes acontecerá, naturalmente, se forem libertados das suas cadeias e curados da sua ignorância. Que se liberte um desses prisioneiros, que seja ele obrigado a endireitar-se imediatamente, a voltar o pescoço, a caminhar, a erguer os olhos para a luz: ao fazer todos estes movimentos sofrerá, e o deslumbramento impedi-lo-á de distinguir os objetos de que antes via as sombras. Que achas que responderá se alguém lhe vier dizer que não viu até então senão fantasmas, mas que agora, mais perto da realidade e voltado para objetos mais reais, vê com mais justeza? Se, enfim, mostrando-lhe cada uma das coisas que passam, o obrigar, à força de perguntas, a dizer o que é? Não achas que ficará embaraçado e que as sombras que via outrora lhe parecerão mais verdadeiras do que os objetos que lhe mostram agora?

Glauco
- Muito mais verdadeiras.

Sócrates
- E se o forçarem a fixar a luz, os seus olhos não ficarão magoados? Não desviará ele a vista para voltar às coisas que pode fitar e não acreditará que estas são realmente mais distintas do que as que se lhe mostram?

Glauco - Com toda a certeza.

Sócrates
- E se o arrancarem à força da sua caverna, o obrigarem a subir a encosta rude e escarpada e não o largarem antes de o terem arrastado até a luz do Sol, não sofrerá vivamente e não se queixará de tais violências? E, quando tiver chegado à luz, poderá, com os olhos ofuscados pelo seu brilho, distinguir uma só das coisas que ora denominamos verdadeiras?

Glauco
- Não o conseguirá, pelo menos de início.

Sócrates
- Terá, creio eu, necessidade de se habituar a ver os objetos da região superior. Começará por distinguir mais facilmente as sombras; em seguida, as imagens dos homens e dos outros objetos que se refletem nas águas; por último, os próprios objetos. Depois disso, poderá, enfrentando a claridade dos astros e da Lua, contemplar mais facilmente, durante a noite, os corpos celestes e o próprio céu do que, durante o dia, o Sol e sua luz.

Glauco
- Sem dúvida.

Sócrates - Por fim, suponho eu, será o sol, e não as suas imagens refletidas nas águas ou em qualquer outra coisa, mas o próprio Sol, no seu verdadeiro lugar, que poderá ver e contemplar tal qual é.

Glauco
- Necessariamente.

Sócrates
- Depois disso, poderá concluir, a respeito do Sol, que é ele que faz as estações e os anos, que governa tudo no mundo visível e que, de certa maneira, é a causa de tudo o que ele via com os seus companheiros, na caverna.

Glauco
- É evidente que chegará a essa conclusão.

Sócrates
- Ora, lembrando-se de sua primeira morada, da sabedoria que aí se professa e daqueles que foram seus companheiros de cativeiro, não achas que se alegrará com a mudança e lamentará os que lá ficaram?

Glauco - Sim, com certeza, Sócrates.

Sócrates
- E se então distribuíssem honras e louvores, se tivessem recompensas para aquele que se apercebesse, com o olhar mais vivo, da passagem das sombras, que melhor se recordasse das que costumavam chegar em primeiro ou em último lugar, ou virem juntas, e que por isso era o mais hábil em adivinhar a sua aparição, e que provocasse a inveja daqueles que, entre os prisioneiros, são venerados e poderosos? Ou então, como o herói de Homero, não preferirá mil vezes ser um simples lavrador, e sofrer tudo no mundo, a voltar às antigas ilusões e viver como vivia?

Glauco
- Sou de tua opinião. Preferirá sofrer tudo a ter de viver dessa maneira.

Sócrates
- Imagina ainda que esse homem volta à caverna e vai sentar-se no seu antigo lugar: Não ficará com os olhos cegos pelas trevas ao se afastar bruscamente da luz do Sol?

Glauco
- Por certo que sim.

Sócrates - E se tiver de entrar de novo em competição com os prisioneiros que não se libertaram de suas correntes, para julgar essas sombras, estando ainda sua vista confusa e antes que seus olhos se tenham recomposto, pois habituar-se à escuridão exigirá um tempo bastante longo, não fará que os outros se riam à sua custa e digam que, tendo ido lá acima, voltou com a vista estragada, pelo que não vale a pena tentar subir até lá? E se alguém tentar libertar e conduzir para o alto, esse alguém não o mataria, se pudesse fazê-lo?

Glauco
- Sem nenhuma dúvida.

Sócrates
- Agora, meu caro Glauco, é preciso aplicar, ponto por ponto, esta imagem ao que dissemos atrás e comparar o mundo que nos cerca com a vida da prisão na caverna, e a luz do fogo que a ilumina com a força do Sol. Quanto à subida à região superior e à contemplação dos seus objetos, se a considerares como a ascensão da alma para a mansão inteligível, não te enganarás quanto à minha idéia, visto que também tu desejas conhecê-la. Só Deus sabe se ela é verdadeira. Quanto a mim, a minha opinião é esta: no mundo inteligível, a idéia do bem é a última a ser apreendida, e com dificuldade, mas não se pode apreendê-la sem concluir que ela é a causa de tudo o que de reto e belo existe em todas as coisas; no mundo visível, ela engendrou a luz; no mundo inteligível, é ela que é soberana e dispensa a verdade e a inteligência; e é preciso vê-la para se comportar com sabedoria na vida particular e na vida pública.

Glauco
- Concordo com a tua opinião, até onde posso compreendê-la.

sábado, 4 de abril de 2009

Àrte

A arte é algo realmente engraçado. Tenta-se racionalizar o intangível, expondo em obras o sentimento. À sombra do que marginaliza a alma humana, a arte busca tornar-nos eternos, imortais. Acontece que nós mudamos de opinião, a obra não.

domingo, 29 de março de 2009

Preciso reaprender a pensar

Sempre tive tempo para pensar. Sempre tive tempo para criar. O ócio era a minha casa, meu porto seguro de criatividade. Hoje vivo no stress de expectativas e intenções. Trabalho, faculdade, namoro. Até meus períodos ficam mais curtos. Tenho medo de usar vírgulas. Tudo precisa ser intenso, conciso. Mas às vezes falho. Às vezes deixo de perceber certas coisas que são essenciais.

Nesse ponto, paro e inspiro... e expiro.

Tento entender os motivos da inspiração que me assola. Num mundo contundente, às análises exacerbadas tomam conta dos porquês humanos. Tudo precisa ser simples. Não há espaço para a complexidade. Tudo o que é muito complexo acaba por ser ignorado.

Digo isso, pois a pessoa que mais amo também escreve. E como num profundo agrave da lança que perfura o peito, eu leio. Entendo que existe complexidade por trás da objetividade. Apesar das diversas incapacidades tácitas inerentes às necessidades escolhidas, o que contém subjuga-se ao conteúdo. E num protesto singelo das mesmas análises descritas outrora, ela chora, e grita, e xinga. Apenas palavras. Palavras ácidas.

Meus olhos regurgitam à sombra da ideia que não interpretam, pois eles mesmos não fazem nada, só olham. Incapazes de entender o porquê de tanta raiva reprimida, perguntam ao cérebro, que nunca deixa-se pegar desprevenido, e sempre tem uma resposta pronta. Mas a verdade é que não tem. Entende as próprias culpas, mas não acha justo. Como pode? Mas ela também não...? Não importa. Realmente não importa.

Mas o que deixa mais triste esta nobre presença figurativa? A subjetividade do objeto escrito. A raiva justificada. A desconfiança.

Sempre me perguntei: "no final das contas, tirando isso, o que sobra"? Parece que hoje eu descobri a resposta. Lendo isso, até me convenço de que sou um monstro.

domingo, 31 de agosto de 2008

Português, programação e arte

Por que generalizar? Por que dizer "ah, eu sou um desenvolvedor (sic), sempre gostei de Matemática, detesto Português e tenho pavor à História"? Eu já cai nesses clichês, mas acredito que conforme cresço e adquiro maturide, passo a me entender melhor. Hoje sei o que eu realmente gosto. Não que eu não soubesse antigamente, mas eu sou assim, me dou o direito de mudar e de afirmar categoricamente que é definitivo. Afinal, qual seria a graça de fazer algo se eu não achasse que é pra sempre? Vai que realmente é...

Voltando ao foco, estava dizendo que hoje eu consigo entender que a minha paixão não reside numa atividade somente. Eu gosto muito de programar, me dedico a isso, assim como me dedico a cada projeto que inicio na minha vida, me dedico a cada tentativa de evolução e superação, afinal é disso que eu realmente gosto, desses três passos: idéia, pesquisa e evolução. Isso faz minha vida completa.

Escrever é uma arte, programar também. Programar é escrever e escrever é como programar. No português, buscam-se as palavras corretas e as disposições perfeitas, de forma a fazer sentido, de forma a comunicar. Pintar, esculpir, programar. Não preciso ser tão prolixo pra explicar o que quero dizer, não é?

Então é isso. Isso é um blog. No blogspot (e não naquele deserto do Live Spaces), lar absoluto da maior parte dos blogueiros que admiro anonimamente. Eu sou o Pedro, e vou tentar escrever aqui quando o sono não vier (ou seja, quase sempre).

Garanto que eu posso escrever melhor do que isso, mas eu precisava de um texto pra começar, e todo texto policiado resulta nisso: falha.